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terça-feira, 4 de março de 2014

Joaquim Barbosa: Suprema Tristeza


DITADURA DA TOGA



"O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, deveria saber que nossa sociedade também anda muito triste e desconfiada dos políticos, de seus métodos que ainda persistem e da forma como são feitas escolhas para circunstancialmente ocupar cargos. (...)

"Estranho e bizarro, para não dizer triste, como prefere o presidente do STF, é vê-lo descer ao mais baixo degrau do comportamento civilizado da história do Supremo Tribunal Federal. (...)

"Nossa sociedade vive muito triste com a fórmula usada para preencher funções em ministérios, em tribunais de justiça, tribunais de contas, conselhos de estatais e agências reguladoras. Pior é condenar o método e não mover uma palha para mudá-lo, evitando que no futuro outros fiquem sob suspeição.

Creio que o ex-presidente Lula, ao indicá-lo para o STF, quis, entre outras coisas, homenagear, reconhecer e valorizar suas raízes. Não é difícil imaginar Lula muito triste com a escolha que fez. Não por ver correligionários presos, pela escolha em si ou pelos posicionamentos do ministro, mas por ver no que ele se transformou: uma autoridade amarga, encolerizada e um homem inebriado pelo poder dos holofotes que o arrebataram. O que é muito triste e não só por uma tarde!"



Barbosa, o ministro, esqueceu que está circunstancialmente ocupando o trono

do blog Rádio do Moreno

O "Supremo" triste

Hélio Chaves



Plagiando uma atriz da qual não me recordo o nome, digo: “tenho medo”. Tenho medo de homens forjados por holofotes, que surgem do nada, saem de cartolas mágicas num piscar de olhos e que, da noite para o dia, são vertidos como salvadores da pátria, do mundo ou um pseudo caçador de marajás. Figuras que se transformam em seres soberbos, prepotentes, de egos inflados e que dizem ter “aquilo roxo”. Se alguém viu algo parecido, sabe muito bem onde isso vai dar ou como tudo termina. Os holofotes se afastam, as luzes se apagam e o produto sucumbe na escuridão.

O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, deveria saber que nossa sociedade também anda muito triste e desconfiada dos políticos, de seus métodos que ainda persistem e da forma como são feitas escolhas para circunstancialmente ocupar cargos. Muito já foi dito, visto, lido e ouvido sobre o “Mensalão” e os desdobramentos da Ação Penal 470 que condenou e prendeu. O resultado saciou temporariamente a sede dos brasileiros ávidos por justiça, principalmente ao verem trancafiados quem usufruía de foro privilegiado.

A AP 470 embrulhou e jogou na arena tubarões e peixes pequenos. Misturou no balaio cobras e lagartos, mas é sempre bom desconfiar do todo alardeado. Sem entrar no mérito da culpa, da inocência, das penas ou do tamanho do crime cometido, a justiça já foi feita. Então, cumpra-se a sentença da Lei.

Pessoas e biografias foram parar na latrina, mas não basta: é preciso que os réus continuem sendo julgados, condenados e vigiados no dia a dia, para aplacar as revoltas das massas que saíram às ruas em protesto contra a corrupção, todas as mazelas vividas e contra alguns setores da sociedade. Cidadãos que empunharam bandeiras de esperança e descrença com seus líderes, sejam eles ocupantes de postos no Executivo, Legislativo ou Judiciário. Gente que só acreditava em prisão de ladrão de galinha passou a ver na AP 470 uma luz no fim do túnel. Ponto para a Justiça.

Estranho e bizarro, para não dizer triste, como prefere o presidente do STF, é vê-lo descer ao mais baixo degrau do comportamento civilizado da história do Supremo Tribunal Federal. Barbosa pôs sob suspeição, ao vivo e em cores, o método de escolha de seus pares para compor o time da Casa. Para ele, é pouco mandar um profissional da imprensa livre, como se quer, chafurdar no lixo. Também é preciso desprezar nomes e arranhar biografias de quem não pense como ele.

Para o ministro, discordar do seu ponto de vista significa constituir uma maioria circunstancial. Esquece-se de que durante a maior parte do julgamento da AP 470, primeiro como relator e depois como presidente da Casa, agiu como um déspota, uma espécie de bússola jurídica que aponta rumos a serem seguidos, não questionados ou contrariados. Período em que também fez parte de uma maioria circunstancial.

Como presidente do Supremo, deveria saber que está circunstancialmente ocupando o trono como ministro da mais alta corte de nosso país. Não faria mal a ele uma autocrítica por também ser fruto do esquema de escolha que hora condena e que o levou ao posto. É pouco provável que o faça ou tenha ficado triste com a indicação de seu nome. Nossa sociedade vive muito triste com a fórmula usada para preencher funções em ministérios, em tribunais de justiça, tribunais de conta, conselhos de estatais e agências reguladoras. Pior é condenar o método e não mover uma palha para mudá-lo, evitando que no futuro outros fiquem sob suspeição.

Creio que o ex-presidente Lula, ao indicá-lo para o STF, quis, entre outras coisas, homenagear, reconhecer e valorizar suas raízes. Não é difícil imaginar Lula muito triste com a escolha que fez. Não por ver correligionários presos, pela escolha em si ou pelos posicionamentos do ministro, mas por ver no que ele se transformou: uma autoridade amarga, encolerizada e um homem inebriado pelo poder dos holofotes que o arrebataram. O que é muito triste e não só por uma tarde!

"Sinto-me autorizado a alertar a nação brasileira de que este é apenas o primeiro passo..."

Quem canta seus males espanta, afinal, é Carnaval!

"Tristeza
Por favor vai embora
Minha alma que chora
Está vendo o meu fim
Fez do meu coração
A sua moradia
Já é demais o meu penar
Quero voltar àquela
Vida de alegria
Quero de novo cantar... "


[Tristeza (1966), Niltinho e Haroldo Lobo]

Hélio Chaves é jornalista colaborador da Rádio do Moreno.


Jornal GGN/Luis Nassif Online

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