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sábado, 26 de janeiro de 2013

Repórteres Sem Fronteiras alertam sobre Coronelismo Midiático


A importante organização internacional Repórteres Sem Fronteiras faz alerta sobre a "ligação carnal" entre veículos da grande imprensa brasileira e partidos políticos e esferas de poder.


Mídia brasileira mantém "relação quase incestuosa" com centros de poder e precisa aprovar Marco Civil, alerta relatório da RSF

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A organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) lançou nesta quinta-feira, 24 de janeiro, um relatório sobre a situação da mídia e do jornalismo brasileiros, com base em visitas feitas ao país em novembro de 2012. Com o nome "O país dos trinta Berlusconi", o título do documento faz alusão ao ex-primeiro ministro italiano Silvio Berlusconi, também proprietário da maior empresa de mídia na Itália -- Mediaset -- e sobre a relação danosa entre meios de comunicação e poderes políticos que, segundo a RSF, é um dos principais entraves à diversidade dos meios de comunicação no Brasil.

O relatório inaugura sua análise no chamado coronelismo brasileiro e em sua relação com os meios de comunicação, que gera concentração de propriedades, assédio e censura tanto em nível nacional quanto regional ou local. "[Essas] são as características mais marcantes de um sistema que não chegou a ser questionado de fato desde o final da ditadura militar (1964-1985) [...]. Os generais saíram de cena, mas os 'coronéis' continuaram", alfineta a RSF no texto, que pode ser lido em PDF.

Vale lembrar que os chamados coroneis são grandes proprietários de terra ou de indústrias que ocupam também posições políticas em determinadas regiões do país e, assim, têm grande influência -- quando não controle de fato -- sobre a mídia e a opinião pública.

Não é apenas a concentração de meios de comunicação na mão de poucas empresas (dez delas controlam quase todo o mercado de comunicação do país) que chamou a atenção da equipe da organização. O governo investe fortemente em publicidade, e essa relação de dependência configura um cenário menos polarizado que a mídia nos países sul-americanos vizinhos (como a Venezuela), mas no qual os meios de comunicação mantêm uma relação "quase incestuosa com os centros de poder político e econômico".

Censura judicial e internet

Como já alertamos no Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, a censura judicial tem se tornado um dos problemas mais graves -- e menos questionados -- da mídia brasileira. A RSF concorda. Um dos casos mais conhecidos mencionados pelo relatório foi o processo do político maranhense José Sarney contra o jornal paulista O Estado de S. Paulo, que desde 2009 proíbe o jornal de fazer referência a negócios do filho do político, Fernando Sarney.

A chamada censura togada tem atingido principalmente a internet e seus elos mais fracos, como blogs e sites. Mas os grandes da internet não ficam de fora: durante as eleições municipais de 2012, lembra o relatório da RSF, o Google Brasil teve de retirar do ar ou modificar cerca de 300 itens relacionados às eleições. E, entre janeiro e junho de 2012, houve mais de 2.300 pedidos para remoção de conteúdo ao braço brasileiro da empresa. Um relatório da organização Artigo 19, publicado em 2012, já alertava para os perigos da censura online, no qual lembrava que o medo de sofrer represálias judiciais levava muitos jornalistas e blogueiros a se autocensurarem.

"É difícil pensar que a censura preventiva poderia ser capaz de conter o fluxo de notícias e informação na internet. Ainda assim, os tribunais brasileiros têm mirado em informação online", alerta o relatório. Para garantir a liberdade de expressão e do usuário na internet, a Repórteres sem Fronteiras considera fundamental a aprovação do Marco Civil da internet, proposta que define direitos e deveres dos usuários e das empresas que navegam na rede. Para a organização, a adoção sem demora do Marco Civil (cuja votação já foi adiada cinco vezes) garantiria a neutralidade na rede, protegeria as informações individuais de usuários e limitaria radicalmente a censura no meio.
Violência
Inaugurando o mês de janeiro com o primeiro jornalista do mundo assassinado em 2013, o Brasil não recebeu muitos elogios em relação à proteção de profissionais da imprensa no relatório da RSF. No entanto, além da óbvia crítica à impunidade desses crimes e à posição do país como o quinto mais perigoso para jornalistas, a organização relativizou a importância da federalização dos crimes contra profissionais da imprensa. "Embora jornalistas precisem ser mais bem protegidos, experiências anteriores mostraram que mecanismos focados apenas na segurança não necessariamente cumprem o papel de oferecer notícias e informação", comenta o relatório.
Veja o relatório completo clicando em Open publication - Free publishing

Jornalismo nas Américas

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São Paulo: o pão nosso de cada dia


CENA PAULISTANA

Apesar de megalópole, uma das maiores do mundo, 459 anos ontem, 13 milhões de almas, "aglomerada solidão", como cantou Tom Zé, a cidade de São Paulo ainda hoje abriga em suas ruas cenas e personagens como a do vendedor ambulante de alhos e outras mercadorias.

O antigo e o ultramoderno convivem no dia a dia da metrópole alucinante. Sem conflitos, sem impasses.

O pão nosso de cada dia. Em São Paulo

Apóllo Nátali*

Zelão calcula: solta 7 mil gritos por mês. De porta em porta, rua por rua, bairro por bairro, explode sempre o mesmo berro: alhô!!! É vendedor de alhos na metrópole de São Paulo, 13 milhões de habitantes, 459 anos de vida em janeiro deste 2013. Ergue e abaixa a cabeça, a caminhar. Olha dos lados. Voz de trovão. Alta agora, menos lá na frente. Um tom para esquerda, outro para a direita. Os gritos invadem salas, quartos, cozinhas, quintais, quarteirões. Os cães ladram. Ele e sua sacola. Nos portões, mulheres, crianças. Ganha para comprar comida, chinelos e o aluguel.

Peguem o lápis: Zelão passa por 200 casas por dia. Ou 1.200 por semana. Ou 3.600 por mês. Em cada porta, dois gritos: 7.200 por mês. (Ou mais. Tem vez que ele grita três ou quatro vezes na mesma casa). São 43.200 portas por ano, 86.400 gritos por ano. Já vendeu alho em 1 milhão e 500 mil portas, em 35 anos. Sendo 2 gritos em cada porta, ganhar o pão até agora lhe custou 3 milhões de alhô!!! Ou mais.

Vende alho chileno. Graúdo, suculento, caro. Negocia 100 cabeças por dia. São 1.200 dentes por dia – cada alho chileno tem 12 dentes. São 3.600 dentes por mês, 43.200 por ano. Segue-se que já espalhou 1 milhão e 500 mil dentes de alhos, ou mais, nesses 35 anos, nas mesas de suas freguesas. Para vender 1 milhão e 500 mil dentes, de seu peito saíram mais de 2 milhões e 500 mil gritos. Para cada dente que vendeu, 1 décimo de grito saiu de sua garganta.

Ânimo para trabalhar – Mas espera aí. De onde vem esse ânimo, essa coragem, para pular da cama cada manhã e gritar alhô toda a vida? Empresas promovem convescotes para seus vendedores e suas mulheres e crianças em hoteis cinco estrelas, hoteis-fazenda, dá prêmios, promove esportes e tudo o mais, para despertar entusiasmo neles e motivá-los a trabalhar. E o Zelão, que não tem nada disso? E aí, Zelão, de onde vem essa coragem, essa persistência, esse entusiasmo? (Ele nunca ouviu falar no maior vendedor do mundo, o americano Frank Bettger, que no começo do século vinte animava seus colegas com cara de apatia e tristeza ensinando: “sem entusiasmo não se faz nada. Para ficar entusiasmado, obrigue-se a agir com entusiasmo. O entusiasmo supera a preguiça e vence o medo, contagia as pessoas que o cercam e dá uma sensação de euforia. Pode bem ser que revolucione toda a sua vida”). - Bestera.Tem que trabaiá, argumenta Zelão.

Domingo, dia de futebol. Aos 61 anos, corre três horas atrás da bola, no campo do Jardim São Nicolau, zona leste de São Paulo. Joga no segundo time e no primeiro. Sobram gritos em campo para animar os colegas e gritar gol. Antes de começar a andar, você engatinhava muito? Quantos quilômetros você engatinhou, antes de começar a ficar de pé? Ôpa, é isso mesmo. Pode crer. Dor nas pernas, cansaço, preguiça, falta de fôlego? Nada. Em que você pensa quando anda, anda, anda, anda? Em milhões de coisas. Penso em mim, na minha vida, em comprar casa, pôr dinheiro no banco, me casar com a minha noiva, já estou há muito tempo com ela, limpar o alho, tirar a casca, a palha, cortar o talo, correr atrás. Quantas horas você anda por dia? Quatro horas. (35 anos são 12.600 dias ou 50.400 horas a andar).

Castigo de Deus – Na sua igreja presbiteriana do Jardim São Nicolau, Zelão ouve falar do castigo que Deus infligiu a Adão – ganhar a vida com o suor do próprio rosto – por ter dado ouvido às maldades de uma serpente e abocanhado uma miserável de uma maçã. Bestera. Tem que trabaiá. Você acha que Deus está te castigando, te obrigando a suar desse jeito para ganhar o pão, só porque um homem que muitos não acreditam que existiu andou transando no meio do mato com uma garota chamada Eva? Bestera. Tem que trabaiá. Como você começou? - O cumpadi chegô e falô: vamu trabaiá? Fumu, ele parô, eu cuntinuei. Como vão as vendas? Sobe, cai, vende bem, vende nada. Não vende aqui, vende lá. A mulherada reclama muito, do alho, do preço? Alho chileno é o melhor, mais caro. Nacional é barato, pequeno, não dá gosto. Assim mesmo, muié fala muito, né? Chuva, sol, frio, calor? Nada me mete medo. Zelão, você sabe para quê o alho faz bem? Zelão, não. É José Ovídio Filho.

O vendedor de saúde - Você sabe para quê o alho faz bem? O quanto de saúde você já deixou nas mesas das suas freguesas com os seus 2 milhões e 500 mil gritos até agora? Bom para temperar comida, para resfriado, afinar o sangue. Como é que você sabe? A gente vê na televisão.Você faz ideia, Zelão, o quanto teu coração de 15 anos tem espalhado de saúde por aí? Alho não é bom para quem tem pressão baixa. (Alguns dizem que é bom). Quem te disse? A gente vê na televisão. Sem querer te ensinar nada, eu também vi na televisão e num livro, parece que o alho, pelo que dizem, é milagroso. Os amigos se aproximam na frente do seu prédio, o Alfazema. O olhar de Zelão está parado, meu olhar está parado, os olhares de todos estão parados. Um lembra com um fio de voz que os que têm pressão alta ficam com a pressão boa o dia inteiro se usarem um colar feito de dentes de alho. Viu na televisão um médico recomendar o colar. Hora da foto. Foto? Não. Pedi uma mísera foto do Zelão de costas, com pose de andar. Também não. Hora de dormir. Amanhã, e até quando Deus chamar, haja grito, quanto chão. Diz que anda 6 quilômetros por dia. São 12 mil metros. Cada passo que ele dá é meio metro. Então, ele vai dar amanhã 24 mil passos. É isso? Em 35 anos, quantos passos? Calculadora, por favor. Foram 30 milhões e 240 mil passos. E 420 pares de chinelos consumidos nesse tempo, um a cada três meses – 12 por ano.


* Apóllo Nátali é jornalista e escritor.

Vendedor de alho. Foto: Wagner Swerts Tambur

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A furibunda e moribunda oposição brasileira


Não é só a velha, elitista e golpista mídia brasileira, historicamente de costas para os verdadeiros interesses do País, que está com os dias contados, vendo sua influência ser dia a dia corroída pela falta de credibilidade e com o advento das novas vozes que se levantam nas redes sociais e na blogosfera. A oposição (PSDB, DEM e PPS), oportunista e tacanha, também se encontra em estado terminal.

Não se renovam, ambas. Entra década e sai década, muda-se o milênio, adentra-se a Nova Era, e o discurso é o mesmo: retrógrado, decadente, vazio de propostas, a serviço de interesses espúrios. 

Rebeldes sem causa.

Grotesco.






Leandro Fortes

PSDB

Nota de falecimento

A reação formal do PSDB ao pronunciamento da presidenta Dilma Rousseff sobre a redução nos preços das tarifas de energia elétrica, em todo o país, é o momento mais lamentável do processo de ruptura histórica dos tucanos desde a fundação do partido, em junho de 1988.



O presidente nacional do PSDB, Sergio Guerra. 
Foto: Agência Brasil

A nota, assinada pelo presidente da sigla, deputado Sérgio Guerra, de Pernambuco, não vale sequer ser considerada pelo que contém, mas pelo que significa. Trata-se de um amontoado de ilações primárias baseadas quase que exclusivamente no ressentimento político e no desespero antecipado pelos danos eleitorais inevitáveis por conta da inacreditável opção por combater uma medida que vai aliviar o orçamento da população e estimular o setor produtivo nacional.

Neste aspecto, o deputado Guerra, despachante contumaz dessas virulentas notas oficiais do PSDB, apenas personaliza o ambiente de decadência instalado na oposição, para o qual contribuem lideranças do quilate do senador Agripino Maia, presidente do DEM, e o deputado Roberto Freire, do PPS. Sobre Maia, expoente de uma das mais tristes oligarquias políticas nordestinas, não é preciso dizer muito. É uma dessas tristes figuras gestadas na ditadura militar que sobreviveram às mudanças de ventos pulando de conchavo em conchavo, no melhor estilo sarneysista. Freire, ex-PCB, transformou a si mesmo e ao PPS num simulacro cuja fachada política serve apenas de linha auxiliar ao pior da direita brasileira.

O PSDB surgiu como dissidência do PMDB que já na Assembleia Constituinte de 1986 caminhava para se tornar nisto que aí está, um conglomerado de políticos paroquiais vinculados a interesses difusos cujo protagonismo reside no volume, a despeito da qualidade de muitos que lá estão. A revoada dos tucanos parecia ser uma lufada de ar puro na prematuramente intoxicada Nova República de José Sarney. À frente do processo, um grande político brasileiro, Mário Covas, que não deixou herdeiros no partido. De certa forma, aquele PSDB nascido sob o signo da social democracia europeia morreu junto com Covas, em 2001. Restaram espectros do nível de José Serra, Geraldo Alckmin e Álvaro Dias.

Aliás, o sonho tucano só não morreu próximo ao nascedouro, em 1992, porque Covas impediu, sabiamente, que o PSDB se agregasse ao moribundo governo de Fernando Collor de Mello, às vésperas do processo de impeachment. A mídia, em geral, nunca toca nesse assunto, mas foi o bom senso de Covas que barrou o movimento desastrado liderado por Fernando Henrique Cardoso, que pretendia jogar o PSDB na fossa sanitária do governo Collor em troca de assumir o cargo de ministro das Relações Exteriores. FHC, mais tarde chanceler e ministro da Fazenda de Itamar Franco, e presidente da República por dois mandatos, nunca teria chegado a subprefeito de Higienópolis [!!!] se Covas não o tivesse impedido de aderir a Collor.

Fala-se muito da extinção do DEM, apesar do suspiro do carlismo em Salvador, mas essa agremiação dita “democrata” é um cadáver insepulto há muito tempo, sobre o qual se debruçam uns poucos reacionários leais. É no PSDB que as forças de direita e os conservadores em geral apostam suas fichas: há quadros melhores e, apesar de ser uma força política decadente, ainda se mantém firme em dois dos mais importantes estados da federação, São Paulo e Minas Gerais.

E é justamente por isso que a nota de Sérgio Guerra, um texto que parece ter sido escrito por um adolescente do ensino médio em pleno ataque hormonal de rebeldia, é, antes de tudo, um documento emblemático sobre o desespero político do PSDB e, por extensão, das forças de oposição.

Essas mesmas forças que acreditam na fantasia pura e simples do antipetismo, do antilulismo e em outros venenos que a mídia lhes dá como antídoto ao obsoletismo em que vivem, sem perceber que o mundo se estende muito além das vontades dos jornalões e da opinião de penas de aluguel que, na ânsia de reproduzir os humores do patrão, revelam apenas o inacreditável grau de descolamento da realidade em que vivem.


CartaCapital

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