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sexta-feira, 8 de julho de 2011

A Indignação Justa da professora e da blogueira

Eu vinha mesmo querendo escrever um post sobre a professora Amanda, de Natal, que recusou um prêmio concedido pelo PNBE, Pensamento Nacional das Bases Empresariais, mas certamente não faria melhor do que fez a combativa educadora e blogueira Rosa Zamp em seu blog Palavras de um Novo Mundo.

Um Outro Mundo é Possível. A hombridade da professora Amanda e da educadora-blogueira são provas disto.

Esta é a Blogosfera Verdadeiramente Progressista!

 
Dignidade e respeito não são mercadorias!

 

Valores morais e éticos não se compra nem se vende, se tem ou não. Parabéns (mais uma vez) a prof.ª Amanda por não barganhar a sua dignidade, voz que passou a representar milhares de professores e cidadãos brasileiros que exigem respeito. Eis um dos motivos pelos quais não perco a esperança de que as mudanças são possíveis sim, desde que não fiquemos imobilizados.
Este país tem muitas Amandas, Marias, Paulos, Josés, milhares de vozes que só precisam se conscientizar da necessidade de unir forças para que a Educação, a Saúde, a Segurança, enfim, para que os serviços públicos essenciais e outros sejam recuperados, resgatados do poço vergonhoso ao qual foram lançados.O exemplo da professora Amanda é mais um entre tantos outros que são praticados diariamente contra a "democratização" da sem-vergonhice que tomou conta desta nação.
Entretanto, são vozes ainda isoladas, gritos oprimidos e abafados pela repressão dos opressores, estes que vem se utilizando do poder que tem em mãos para impedir a explosão dos gritos entalados daqueles que defendem o retorno imediato da dignidade e respeito aos cidadãos que não suportam mais assistir ao desmantelamento de serviços públicos que lhes são de direito e pelos quais pagam uma fortuna de impostos.

Como se pode falar em privatização da Educação se é dever do Estado garanti-la a todos gratuitamente e de qualidade? Enquanto isso os professores estão em fase de extinção em virtude da desvalorização profissional, da falta de condições de trabalho, das doenças que nos acometem; as escolas sucateadas, os materiais didáticos viraram motivo de piada pelo descaso das Secretarias e Ministério da Educação e os alunos... os alunos são os principais prejudicados, para dizer o mínimo.
Paulo Freire já dizia que "a esperança é uma necessidade ontológica...não sou esperançoso por pura teimosia, mas por imperativo existencial e histórico." Se bem que a esperança sozinha não é suficiente se não formos à luta, ao embate necessário para o resgate do que se perdeu ou do que querem ainda nos tirar.
O desrespeito à coisa pública, aos direitos mínimos do cidadão aliados a impunidade, têm se generalizado de tal forma que não há mais espaço para suportar tanta desfaçatez. Fundamental se faz que as vozes se juntem, que haja mobilização contra tudo e todos que desconhecem valores básicos primordiais para a existência de uma sociedade saudável e justa para todos igualmente.
(Rosa Zamp)

 
Abaixo texto da Prof.ª Amanda recusando o prêmio da PNBE e os motivos.






Porque não aceitei o prêmio do PNBE

Oi,
Nesta segunda, o Pensamento Nacional de Bases Empresariais (PNBE) vai entregar o prêmio "Brasileiros de Valor 2011". O júri me escolheu, mas, depois de analisar um pouco, decidi recusar o prêmio.

Mandei essa carta aí embaixo para a organização, agradecendo e expondo os motivos pelos quais não iria receber a premiação. Minha luta é outra.

Espero que a carta sirva para debatermos a privatização do ensino e o papel de organizações e campanhas que se dizem "amigas da escola".

Amanda


Natal, 2 de julho de 2011

Prezado júri do 19º Prêmio PNBE,

Recebi comunicado notificando que este júri decidiu conferir-me o prêmio de 2011 na categoria Educador de Valor, “pela relevante posição a favor da dignidade humana e o amor a educação”. A premiação é importante reconhecimento do movimento reivindicativo dos professores, de seu papel central no processo educativo e na vida de nosso país. A dramática situação na qual se encontra hoje a escola brasileira tem acarretado uma inédita desvalorização do trabalho docente. Os salários aviltantes, as péssimas condições de trabalho, as absurdas exigências por parte das secretarias e do Ministério da Educação fazem com que seja cada vez maior o número de professores talentosos que após um curto e angustiante período de exercício da docência exonera-se em busca de melhores condições de vida e trabalho.

Embora exista desde 1994 esta é a primeira vez que esse prêmio é destinado a uma professora comprometida com o movimento reivindicativo de sua categoria. Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi antes de mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação. Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele corporações como Banco Itaú, Embraer, Natura Cosméticos, McDonald's, Brasil Telecon e Casas Bahia, bem como a políticos tradicionais como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva.

A minha luta é muito diferente dessas instituições, empresas e personalidades. Minha luta é igual a de milhares de professores da rede pública. É um combate pelo ensino público, gratuito e de qualidade, pela valorização do trabalho docente e para que 10% do Produto Interno Bruto seja destinado imediatamente para a educação. Os pressupostos dessa luta são diametralmente diferentes daqueles que norteiam o PNBE. Entidade empresarial fundada no final da década de1980, esta manteve sempre seu compromisso com a economia de mercado. Assim como o movimento dos professores sou contrária à mercantilização do ensino e ao modelo empreendedorista defendido pelo PNBE. A educação não é uma mercadoria, mas um direito inalienável de todo ser humano. Ela não é uma atividade que possa ser gerenciada por meio de um modelo empresarial, mas um bem público que deve ser administrado de modo eficiente e sem perder de vista sua finalidade.

Oponho-me à privatização da educação, às parcerias empresa-escola e às chamadas “organizações da sociedade civil de interesse público” (Oscips), utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever para com o ensino público. Defendo que 10% do PIB seja destinado exclusivamente para instituições educacionais estatais e gratuitas. Não quero que nenhum centavo seja dirigido para organizações que se autodenominam amigas ou parceiras da escola, mas que encaram estas apenas como uma oportunidade de marketing ou, simplesmente, de negócios e desoneração fiscal.

Por essa razão, não posso aceitar esse Prêmio. Aceitá-lo significaria renunciar a tudo por que tenho lutado desde 2001, quando ingressei em uma Universidade pública, que era gradativamente privatizada, muito embora somente dez anos depois, por força da internet, a minha voz tenha sido ouvida, ecoando a voz de milhões de trabalhadores e estudantes do Brasil inteiro que hoje compartilham comigo suas angústias históricas. Prefiro, então, recusá-lo e ficar com meus ideais, ao lado de meus companheiros e longe dos empresários da educação.

Saudações,

Professora Amanda Gurgel


Buscado no: http://professoraamandagurgel.blogspot.com/2011/07/porque-nao-aceitei-o-premio-do-pnbe.html


Imagens: Google