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domingo, 6 de março de 2011

No palco, a "Maestrina Dilma"

Mais uma vez, neste curto período de governo, o vetusto e arquiconservador jornal O Estado de S. Paulo, órgão pertencente à tradicional família Mesquita, estampou em editorial, surpreendentemente, elogios à presidenta Dilma Rousseff.

Desta vez, o pomo da discórdia, o motivo da crise, foi o sociólogo Emir Sader, convidado para a direção da Casa de Rui Barbosa pela ministra da Cultura e irmã do Chico, Ana de Hollanda.

Antes de tomar posse, Sader concedeu entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, falando de planos mirabolantes para a Casa, dando declarações polêmicas, fazendo críticas à ministra, a quem chamou até de "meio autista".

O governo Dilma funciona como uma orquestra. Uma orquestra sinfônica. Complexa, sofisticada, comandada por uma maestrina exigente, perfeccionista, de percepção apurada, conhecedora em profundidade de cada músico, cada instrumento, cada obra a ser executada, com domínio de partitura e harmonia, e sabedora de que ela e sua orquestra estão o tempo todo sob os holofotes mais potentes.

É óbvio que com tal regente não será permitida a mínima "desafinação" dos músicos e dos instrumentos. Levantada a batuta, iniciado o espetáculo, a orquestra tem que "arrasar", ser aplaudida de pé!...

Resumo da ópera: a dona e regente da orquestra mostrou quem está no comando. Sader nem começou a tocar as primeiras notas e "dançou"... Não teve tempo nem de afinar direito seu instrumento, nem de vestir sua roupa de gala para subir ao palco...

Nem assumiu e já foi descartado. Comportou-se como um "músico" insubordinado, insolente, vaidoso, metido a Mozart, ou melhor, a Salieri. Imaginava ser algum gênio ou algo assim, que pretendia "desafinar" na orquestra e ser estrondosamente ovacionado...

Não com esta regente, não com esta "chefe de orquestra"...

Foi pro "chuveiro". Ou melhor, pro camarim... E de lá, para casa.

Abaixo o editorial elogioso do Estadão sobre a "maestrina revelação do ano"...




A autoridade de Dilma


Ao enfrentar a crise deflagrada por uma sucessão de desastrosas declarações feitas pelo sociólogo Emir Sader às vésperas de sua nomeação como diretor da Fundação Casa de Rui Barbosa, a presidente Dilma Rousseff agiu com precisão cirúrgica. Ela avalizou a decisão da ministra da Cultura, Ana de Hollanda, que cancelou a indicação de Sader, depois que este a chamou de "meio autista", em entrevista à Folha de S. Paulo, para deixar claro que não admite quebra de hierarquia e que em seu governo não haverá espaço para que membros do segundo escalão critiquem ou desautorizem publicamente seus superiores.

A crise no Ministério da Cultura (MinC) começou há duas semanas, quando Sader - que pretendeu ser ministro da Cultura e, com a nomeação de Ana de Hollanda, recebeu a direção da Fundação Casa de Rui Barbosa como prêmio de consolação - anunciou seus planos. Por lei, a entidade, criada em 1928, é um misto de arquivo, museu e biblioteca, com a obrigação de preservar e difundir a obra de seu patrono. Entre outras iniciativas, Sader prometeu converter a instituição em centro de debates, anunciou a vinda de "intelectuais cuja voz não tem sido contemplada na esfera pública" - como Marilena Chauí, Leonardo Boff, Eduardo Galeano e Slavoj Zizek - e anunciou seminários para discutir "temas contemporâneos", com foco no "Brasil de Lula".

Esses planos foram vistos como uma agenda paralela à do Ministério da Cultura, à qual a Fundação Casa de Rui Barbosa está vinculada. Além de preservar arquivos e documentos históricos do final do Império e do início da República, nas últimas três décadas a entidade tornou-se referência em duas linhas de pesquisas - uma envolvendo temas de direito público e outra voltada à literatura. As pesquisas jurídicas da entidade, por exemplo, fundamentaram a Emenda Constitucional n.º 45, que introduziu a reforma do Judiciário. E grande parte das recentes biografias e edições críticas de autores como Clarice Lispector, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade teve origem em estudos ali realizados.

Por isso, vários escritores e artistas acusaram Sader de pretender aparelhar ideologicamente a Fundação Casa de Rui Barbosa e de desvirtuar suas funções, substituindo as linhas de pesquisa por uma "cultura de eventos" e pelo proselitismo político-ideológico.

"Discutir assuntos de esquerda não tem nada a ver com a história da Casa. Quando qualquer instituição fica muito politizada, a pesquisa sai perdendo", disse o historiador Ronaldo Vainfas, que trabalhou na entidade nos anos 80. "Transformar uma casa que pertenceu a um ícone do liberalismo num espaço para seus inimigos ideológicos seria uma grande traição", afirmou José Murilo de Carvalho, da Academia Brasileira de Letras.

Acirrada a polêmica, intelectuais próximos a Sader passaram a criticar, pela imprensa e pela internet, o nome indicado por Ana de Hollanda para a Diretoria de Direitos Intelectuais do MinC e a proposta por ela apresentada de rever o projeto da nova Lei do Direito Autoral, herança do governo Lula. E, no último domingo, também pela imprensa, depois de chamar a ministra de "meio autista", Sader a acusou de não ter reagido aos cortes orçamentários.

Como era de esperar, Ana de Hollanda reagiu com irritação às críticas, cobrando explicações de Sader e exigindo retratação pública. O sociólogo ainda tentou "limpar a barra" afirmando que o repórter que o entrevistou colocou na sua boca palavras que não dissera, mas se desmoralizou quando a gravação da entrevista foi divulgada. Apesar de Sader ter fortes ligações políticas com o PT e de ter recebido apoio do coordenador da campanha de Dilma pela internet, Marcelo Branco, que chamou Ana de Hollanda de "ministra da Cultura do atraso", Dilma agiu de forma exemplar, consciente de que a confirmação de Sader à frente da Fundação Casa de Rui Barbosa abriria um perigoso precedente em seu governo.

Dilma mostrou capacidade de comando, preservando a autoridade de Ana de Hollanda, enquanto Emir Sader, revelando-se por inteiro, apresentava-se como "vítima privilegiada" da mídia conservadora e da "truculência da direita".