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terça-feira, 31 de maio de 2011

Mídias sociais, praças e ruas: o outro lado do poder

Oriente Médio, Norte da África, capitais europeias, cidades brasileiras...

Alguma coisa significativa acontece longe dos tradicionais, sisudos e fechados espaços que abrigam o poder.

Da Praça Tahir no Cairo de Mubarak à frente do Shopping Higienópolis na São Paulo de Alkmin/Kassab... cidadãos do mundo todo abrem a boca para expressar seu descontentamento com as velhas e apodrecidas estruturas.

Nas mídias sociais e logo em seguida nas manifestações temperadas com ironia, humor, alegria, cordialidade e espírito fraternal, que ganham praças e ruas.


A arrogância aristocrata dá lugar à irreverência pluralista.

Cidadania planetária.

Exercitada na virtualidade. E em espaços abertos de ruas, parques, praças...


 A imprensa e o fenômeno mundial das manifestações em praças públicas

 Carlos Castilho no Observatório da Imprensa



A imprensa precisa começar a olhar para o outro lado do poder. Não apenas aqui no Brasil, mas em todo o mundo. É que são cada dia mais claros os sinais de que algo está acontecendo fora dos palácios, parlamentos, ministérios, tribunais, sedes partidárias, organizações empresariais e sindicais. Está acontecendo mais precisamente nas praças públicas, locais que voltam a ser o ponto de encontro de multidões, em plena era das relações virtuais via internet.

O caso mais recente foi o da praça Puerta del Sol, em Madri, onde um acampamento de jovens antecipou uma fragorosa derrota do partido socialista espanhol nas eleições de domingo. O PSOE acabou pagando o preço de uma manifestação que era contra todos os partidos, para expressar o cansaço e a desilusão dos jovens em relação a uma estrutura política e econômica da qual eles se consideram párias.

A Puerta del Sol é a reedição mais recente do mesmo fenômeno que transformou a praça Tahir no epicentro da rebelião de jovens egípcios que levou à derrubada do presidente Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011. Três anos antes, outra praça ficou mundialmente famosa por conta de protestos contra a quebra do sistema bancário da pacata república europeia da Islândia.

Em outubro de 2008, um jovem músico pegou o seu violão e foi para a praça em frente ao parlamento islandês, em Reykjavík, num sábado, e convidou os transeuntes para expressar, cantando, seu descontentamento com as consequências da quebra do principal banco do país, o Kaupthing.

No primeiro dia, o número de participantes não passou de 20 curiosos. No sábado seguinte, o teimoso Hördur Torfason já reunia 200 participantes e, três fins de semana mais tarde, já era uma pequena multidão. Aí o caso se tornou nacional, colocando o governo islandês de joelhos diante da gravidade do protesto.

Se recuar mais tempo poderemos chegar aos acontecimentos da praça da Paz Celestial, em Pequim, em 1989, antes da internet. Mas o que nos interessa aqui mostrar é como a era digital está alterando a forma como o descontentamento político surge aos olhos da opinião publica — e como a imprensa tem uma enorme dificuldade em detectá-lo nos seus primeiros estágios.

Em meados da primeira década do seculo 21, quando os jovens do mundo inteiro estavam fascinados pela descoberta do telefone celular como arma política, surgiram os primeiros protestos rotulados de smart mob (multidões inteligentes), pelo pesquisador norte-americano Howard Rheingold.

O caso mais clássico foi o ocorrido nas Filipinas em 2002, quando 900 mil jovens vestidos de preto usaram torpedos por celular para organizar, em menos de 24 horas, uma manifestação na praça em frente ao santuário da Virgem Maria, na área central de Manila. Eles exigiam a derrubada do presidente Joseph Estrada, cujo governo não resistiu a quatro dias de protestos.

Mas o caso mais curioso da nova tendência, mencionado no livro The Virtual Community (Comunidades Virtuais, de Howard Rheingold), ocorreu na Europa Central, numa antiga república socialista onde um grupo de jovens resolveu protestar contra o custo de vida convocando uma manifestação em que eles caminhariam em círculos na praça central da cidade, chupando picolé.

Nenhum cartaz e tudo em silêncio, mas os quase três mil jovens que aderiram ao protesto deixaram perplexas as forças da repressão e provocaram reuniões de emergência das autoridades. A manifestação tornou-se um fato político nacional não pelo seus slogans, mas pela forma. A criatividade dos jovens deixou o governo sem ação porque este esperava tudo, menos o uso do picolé como arma política.

As praças passaram a ser vistas pelos jovens como o ambiente presencial que completa o relacionamento virtual que eles criam entre si por meio das redes sociais como Twitter, Facebook e outros. O protesto é combinado pela internet e aparece fisicamente nas praças, mas eles são apenas o sintoma de algo mais amplo e que precisa ser levado em conta pela imprensa.

Estamos diante do surgimento de um novo tipo de expressão da vontade popular que não passa mais pelos mecanismos tradicionais, sejam eles legais ou à margem da lei. Os jovens espanhóis da Puerta del Sol não eram contra este ou aquele partido, mas contra todos eles. Não estavam interessados em votar e pouco lhes importava o resultado do pleito, já que não esperavam nenhuma mudança significativa no poder. Sua desilusão e desesperança estavam expressas em cartazes cheios de ironia e humor.

Mas estão longe de serem niilistas. Eles conseguiram transformar a antipolítica em sua forma política de expressão. E é isso que os torna protagonistas de um processo político inovador que revela também como a imprensa tornou-se escrava do jogo de poder tradicional.

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Arquitetura jurídica


STF - Supremo Tribunal Federal







(Charge do Bessinha)












segunda-feira, 30 de maio de 2011

Dignidade Já!

Campanhas globais da Anistia Internacional


A maior parte do trabalho que a Anistia Internacional realiza para proteger e promover os direitos humanos organiza-se por meio de campanhas.

Entre as principais campanhas internacionais promovidas pela Anistia Internacional no momento estão:


EXIJA DIGNIDADE

Pessoas que vivem na pobreza são mais vulneráveis a violações de direitos humanos - como os despejos forçados - e essas violações acabam por agravar ainda mais a sua situação.

A campanha Exija Dignidade, da Anistia Internacional, tem por objetivo capacitar as pessoas que vivem na pobreza a exercer e reivindicar seus direitos, a cobrar satisfações dos governos, das empresas e das instituições financeiras internacionais por abusos cometidos contra os direitos humanos, e a tomar parte nas decisões que afetam suas vidas.

A campanha tem por foco quatro temas centrais: favelas e despejos forçados; cumprimento legal dos direitos econômicos, sociais e culturais; saúde materna e direitos sexuais e reprodutivos; e responsabilidade social corporativa.


SEGURANÇA COM DIREITOS HUMANOS

A chamada "guerra ao terror" causou a erosão de todo um conjunto de direitos humanos. Os Estados passaram a se valer de práticas há muito proibidas pelo direito internacional, e vêm tentando justificá-las em nome da segurança nacional.

Por meio da campanha Segurança com Direitos Humanos, a Anistia Internacional demanda que os governos respeitem os direitos humanos em quaisquer ações que venham a tomar em nome da segurança nacional ou do combate ao terrorismo. Além disso, a Anistia está trabalhando também para ajudar as vítimas do terrorismo e dos grupos armados, apoiando-as em sua busca por justiça e compensação.

PENA DE MORTE

A pena de morte nega, de forma fundamental, os direitos humanos. Trata-se de um homicídio premeditado e a sangue-frio de um ser humano pelo Estado. Essa punição cruel, desumana e degradante é feita em nome da justiça. Mas é uma violação do direito à vida, conforme proclamado na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Logo após sua fundação, em 1961, a Anistia Internacional começou a enviar apelos para impedir a execução de prisioneiros de consciência. Hoje, a oposição da organização à pena de morte inclui todos os prisioneiros, independente dos crimes pelos quais tenham sido condenados.

Nas últimas décadas, foram alcançados enormes progressos nessa área e hoje o número de países que aboliram totalmente a pena de morte já chega a 90.


JUSTIÇA INTERNACIONAL

Com essa campanha, a Anistia Internacional se empenha pela eficácia do sistema de justiça internacional, a fim de que assegure justiça, verdade e compensação para os crimes de direito internacional, como genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra, tortura, execuções extrajudiciais e desaparecimentos forçados.


CONTROLE DE ARMAS

O comércio desregulamentado de armas provoca desgraça e sofrimento em todo o mundo. Todos os anos, milhares de pessoas são mortas, feridas, estupradas e forçadas a fugirem de suas casas em consequência da violência armada.

A campanha pelo Controle de Armas pede que seja criado um Tratado sobre o Comércio de Armas (TCA) que estabeleça regras estritas para as transferências internacionais de armamentos, e cobre responsabilidade dos fornecedores e comerciantes de armas.

Vejam o vídeo "Exija Dignidade"/Anistia Internacional/Portugal.





Link do vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=rgkST5cPMy0

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domingo, 29 de maio de 2011

Esgoto jornalístico quer matar presidenta Dilma

Dono de jornal, de rede de televisão, de veículo de comunicação... tem partido, posição ideológica, interesses. Jornalista também. E blogueiro, idem. 

A cidadã e o cidadão brasileiros que ainda estiverem na "idade da inocência" em relação à mídia precisam começar a ficar espertos. Fazer leitura crítica. Ler também nas entrelinhas.

Abra a boca, cidadão! E escancare os olhos, ouvidos e todo o senso crítico também, diante da mídia brasileira.



Época não merece desmentido. Merece processo
Os médicos Antônio Carlos Onofre de Lira, diretor técnico, e Paulo Ayroza Galvão, diretor clínico do Hospital Sírio-Libanês, por solicitação da Presidenta Dilma Roussef, emitiram agora à tarde um longo e detalhado relatório sobre os atendimentos prestados a ela. (veja abaixo).
Tratam em detalhes e com absoluta transparência todo os diagnósticos e terapêuticas relativos a eles.
O assunto de interesse público – a saúde da Presidenta – foi tratado com uma transparência ímpar. Aliás, sempre foi, mesmo quando ainda candidata.
Mas não foi transparência o que fez a Época. Foi violação de documentos médicos privados - e cuja divulgação só pode ser feita por autorização do paciente, segundo resolução nº1605/2000, do Conselho Federal de Medicina.
A revista teria todo o direito de formular perguntas sobre a saúde da presidente a ele ou a seus médicos. Mas está confesso nas próprias páginas da revista que “Época teve acesso a exames, a relatos médicos e à lista de medicamentos usados pela presidente da República”. Não foi, repito, informação sobre assuntos ou políticas públicas. Nem mesmo um diagnóstico ou prognóstico que, por sério, pudesse ter interesse para a sociedade. Foram detalhes personalíssimos, que a ninguém dizem respeito.
Isso é crime, previsto no Art. 154 do Código Penal. Tanto quanto é crime a violação de um extrato bancário, de qualquer pessoa. Crime para quem viola o que está sob sua guarda, seja um profissional hospitalar ou um gerente de banco, quanto para quem o divulga, sabendo que foi obtido de forma ilícita.
Não havia um crime a denunciar, um perigo a prevenir, algum direito de pessoa ou da sociedade a proteger, com a divulgação.
A intenção, prevista na lei de “produzir dano a outrem” está marcada pela fotografia “fúnebre” da capa e pela reunião maliciosa entre o uso de remédios para uma infecção – a pneumonia – com outras situações que nada têm a ver com ela – o hipotireoidismo, por exemplo – e até substâncias de uso tópico para aftas, como o bicarbonato de sódio e o Oncilon.
Isso nada tem a ver com o dever de dar informações sobre a saúde de uma pessoa pública. Tanto que elas são e foram dadas sempre, nos boletins médicos.
A motivação foi política: gerar medo, intranquilidade e dúvida sobre sua capacidade de governar. O que se praticou foi um crime – e não apenas um violação ética, o que já é grave – e crimes devem merecer responsabilização.
Mas, aqui, no país onde o inimigo político é culpado até que prove sua inocência (e olhe lá), pretender que a imprensa aja dentro da lei é “perseguição”.
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Época supera Veja em imundície e quer matar Dilma


Alertado por um leitor, fui ver a capa da Época, na qual uma foto da presidenta, de olhos fechados, é usada para ilustrar uma matéria sobre uma suposta gravidade de seus problemas de saúde.

É sordidamente mórbida.

Registra que os seus médicos dizem que ela “apresenta ótimo estado de saude”, mas a partir daí tece uma teia mal-intencionada e imunda sobre os problemas que ela apresentou e os outros que tem, normais para uma mulher da sua idade.

O hipotireoidismo, por exemplo, é problema comuníssimo entre as mulheres de mais idade. É por isso que todo médico pede a eles, sempre, o exame de TSH. E o hormônio T4 – Synthroid, Puran, Levoid, Euthyrox e outros – tomado em jejum, é a mais básica terapêutica, usada por anos e anos por milhões de mulheres do mundo inteiro.

A revista publica uma lista imbecil de “medicamentos” que a presidente tomava, em sua recuperação de uma pneumonia, listando tudo, até Novalgina, Fluimicil e Atrovent (usado em inalação até por crianças), e chegando ao cúmulo de citar “bicarbonato de sódio – contra aftas”.

Diz que o toldo que abrigou Dilma de uma chuva, em Salvador, ” lembrava uma bolha de plástico”.

Meu Deus, o que esperavam que fizessem com uma mulher que se recuperava de um pricípio de pneumonia? Que lhe jogassem um balde de água gelada por cima?

Essa é a “ética” dos nossos grandes meios de comunicação. Não precisam de fatos, basta construírem versões, erguendo grandes mentiras sobre minúsculas verdades.

Esses é que pretendem ser os “fiscais do poder”.

Que imundície!

By: Tijolaço
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Sírio-Libanês faz relatório médico sobre Dilma em resposta à revista 'Época'


"Por solicitação da Exma. Presidenta da República, Sra Dilma Vana Rousseff, o Hospital Sírio-Libanês emite o presente relatório médico.
No início de 2009 a Presidenta Dilma Vana Rousseff foi submetida a avaliação clínica por seu cardiologista, Professor Dr. Roberto Kalil Filho, quando foram indicados exames de rotina, incluindo uma angiotomografia de coronárias, realizada em 20 de março de 2009 no Hospital Sírio-Libanês. Neste exame foi detectado um nódulo axilar esquerdo, com 2,3 cm. de diâmetro e características suspeitas. Uma biópsia excisional deste gânglio foi realizada no dia 3 de abril de 2009, e o diagnóstico final foi de Linfoma Difuso de Grandes Células do tipo B, CD20 positivo. Exames de estadiamento incluíram PET-CT e biópsia de medula óssea, sem achados adicionais. O estadiamento final foi IA.
De abril a julho de 2009, a Sra. Presidenta recebeu tratamento específico para seu tipo de linfoma, incluindo 4 ciclos de R-CHOP (Rituximab, Ciclofosfamida, Vincristina, Doxorrubicina e Prednisona). Durante o tratamento a paciente apresentou miopatia por corticóides e neutropenia transitória. Como complementação ao tratamento quimioterápico, foi indicada e realizada radioterapia envolvendo a axila e fossa supra-clavicular esquerdas. Após o término do tratamento, a paciente foi considerada em remissão completa, passando a acompanhamento de rotina.
Em 23 de dezembro de 2009 a Presidenta Dilma veio a este hospital com sintomas de vias aéreas superiores, acompanhados de febre baixa, sendo diagnosticada com Influenza A (H1N1), por técnica de PCR no swab nasal, tendo sido tratada com Oseltamivir, com resolução completa do quadro.
Em 20 de março de 2010, a Sra. Presidenta apresentou um edema na região cervical. Nesta mesma data, optou-se pela retirada do cateter venoso central (port-a-cath) com resolução quadro clinico.
Na noite de 30 de abril de 2011, a Sra. Presidenta deu entrada no Hospital Sírio-Libanês com sintomas de tosse, febre e mal-estar geral. Foram realizados exames completos que incluíram sorologias, hemoculturas, exames gerais e tomografia de tórax. O diagnóstico final foi de uma broncopneumonia. A Sra. Presidenta foi tratada com os antibióticos Ceftriaxona e Azitromicina, com resolução completa dos sintomas. Os exames sorológicos específicos e culturas não identificaram o agente etiológico. Na mesma data, foram realizados exames de imagem e de sangue para controle do linfoma, todos com resultados negativos. A Presidenta Dilma continua em remissão completa do linfoma, e não há nenhuma evidência de deficiências imunológicas, associadas ou não ao tratamento do linfoma realizado em 2009.
Em 21 de maio de 2011 a Sra. Presidenta realizou tomografia de tórax de controle, mostrando resolução completa do quadro de pneumonia detectado no mês anterior.
Do ponto de vista médico, neste momento a Sra. Presidenta apresenta ótimo estado de saude.
As equipes que assistem a Sra. Presidenta são coordenadas pelos Profs. Drs. Roberto Kalil Filho, Paulo Hoff, Yana Novis, David Uip, Raul Cutait, Carlos Carvalho e Milberto Scaff, Julio Cesar Marino."

Contexto Livre 


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sábado, 28 de maio de 2011

Ativismo da Anistia Internacional celebra 50 anos

Hoje, 28 de maio de 2011, a Anistia Internacional, maior organização defensora dos direitos humanos no mundo, celebra seus 50 anos com comemorações em mais de 60 países.

Fundada em 28 de maio de 1961 em Londres, pelo advogado britânico Peter Benenson, a Anistia Internacional conta hoje com cerca de 3 milhões de ativistas e simpatizantes atuando em 150 países nos cinco continentes.


                                    

"Desde que a vela da Anistia Internacional lançou luz pela primeira vez nas masmorras do mundo, houve uma revolução de direitos humanos. O apelo à liberdade, à justiça e à dignidade abandonou as margens e se transformou numa demanda verdadeiramente global", afirmou Salil Shetty, secretário-geral da Anistia.

Apesar dos progressos alcançados, as violações de direitos humanos continuam. As disposições expressas na Declaração Universal dos Direitos Humanos são descumpridas por governos de todo o mundo. Cerca de dois terços da humanidade não dispõem de acesso à Justiça. Os abusos provocam e aumentam a pobreza no mundo. A violência contra mulheres é generalizada. E em 2010, a AI constatou tortura e maus-tratos em cerca de 98 países.

De acordo com Salil Shetty, o ativismo é um poderoso motor para as transformações: "Podemos oferecer algo que as forças da repressão jamais poderão conter nem silenciar: pessoas unidas numa ação comum; a forte e poderosa concentração da opinião pública; o acender de uma vela atrás da outra, até que a luz de milhões de velas desmascare a injustiça e produza uma pressão pela mudança".

Em 1977, a Anistia Internacional foi agraciada com o Prêmio Nobel da Paz. A organização vem desempenhando importante papel para combater a opressão, a tirania e a corrupção, fomentando a solidariedade internacional aos direitos humanos.

"50 anos de luta contra a tirania e a injustiça demonstraram que a mudança é possível, e que as pessoas, unidas numa ação comum, além fronteiras e crenças, podem conseguir coisas extraordinárias. Cada pessoa pode fazer a diferença, mas milhões de pessoas unidas e se levantando juntas contra a injustiça podem mudar o mundo", declarou Salil Shetty.

Abaixo um vídeo mostrando um pouco da atuação da Anistia Internacional nestes 50 anos.
                                               

 


Link do video: http:www.youtube.com/watch?v=K9pZ3dorFEo&feature=relmfu

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sexta-feira, 27 de maio de 2011

Mais um ativista assassinado!

Esta blogueira e este blog, desolados e revoltados, exigem a apuração rigorosa deste descalabro: o bárbaro assassinato destes três ativistas no norte do País nesta semana.


Presidenta Dilma, ministra Maria do Rosário, ministro José Eduardo Martins Cardozo: nós cidadãs e cidadãos brasileiros exigimos providências urgentíssimas do Estado brasileiro para coibir novas atrocidades como estas e punir exemplarmente estes criminosos.


Chega de impunidade!!!




Líder sem-terra é assassinado a tiros em Rondônia


MATHEUS MAGENTA
DE SÃO PAULO

O agricultor Adelino Ramos, líder do MCC (Movimento Camponês Corumbiara), considerado um dos movimentos sociais agrários mais radicais do país, foi morto a tiros na manhã desta sexta-feira (27) em Vista Alegre do Abunã, distrito de Porto Velho.

Segundo a CPT (Comissão Pastoral da Terra), ele informou à Ouvidoria Agrária Nacional, em 2009, que sofria ameaças de morte porque denunciava a ação de madeireiros na região da divisa entre Acre, Amazonas e Rondônia.

De acordo com informações da Polícia Civil de Rondônia, o agricultor foi morto a tiros por um motociclista enquanto vendia verduras produzidas no acampamento onde vivia. O crime ocorreu por volta das 10h.

Nenhum suspeito foi preso até o momento.

Adelino era um dos sobreviventes do massacre de Corumbiara, em 1995, que ocorreu durante a desocupação da fazenda Santa Elina. Morreram no conflito dez sem-terra que estavam acampados na fazenda e dois policiais militares.

Jimmy Maciel/Sepror



Ramos foi morto a tiros por um motociclista enquanto 

vendia verduras produzidas no acampamento onde vivia


EXTRATIVISTA NO PARÁ

A morte de Adelino acontece três dias depois que o casal José Claudio Ribeiro da Silva, 54, e Maria do Espírito Santo da Silva, 53, serem assassinados a tiros em Nova Ipixuna (PA).

Os dois eram lideranças na extração de castanheira na região e lutava contra os madeireiros na região de Marabá. A polícia suspeita que os dois foram mortos em uma emboscada.

A polícia suspeita que os dois foram mortos em uma emboscada.

Em novembro do ano passado, Silva declarou durante uma palestra na conferência TEDx Amazônia que vivia "com uma bala na cabeça" por denunciar madeireiros da região. "A mesma coisa que fizeram com o Chico Mendes e a irmã Dorothy [Stang], querem fazer comigo."

France Presse


Portal Folha

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quinta-feira, 26 de maio de 2011

República da Bandidagem

O presidente do Senado Federal, José Sarney, arquivou denúncia do advogado Alberto de Oliveira Piovesan, que pedia abertura de processo de impeachment contra Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal. 


Precisa dizer mais alguma coisa?






quarta-feira, 25 de maio de 2011

Cyberativismo em risco

AO COMPLETAR 50 ANOS, ANISTIA INTERNACIONAL ALERTA: MUDANÇA HISTÓRICA ESTÁ NO FIO DA NAVALHA

O relatório anual da Anistia mostra como o crescimento da mídias sociais está impulsionando um novo ativismo que os governos estão fazendo de tudo para controlar

(Londres) As crescentes demandas por liberdade e por justiça em todo o Oriente Médio e no norte da África, assim como a emergência das mídias sociais, oferecem uma oportunidade sem precedentes de mudança na situação dos direitos humanos – mas essa mudança está no fio da navalha, alerta a Anistia Internacional no lançamento de seu informe global sobre direitos humanos, às vésperas do aniversário de 50 anos da organização.
"Passados 50 anos desde que a vela da Anistia começou a iluminar as trevas da repressão, a revolução dos direitos humanos vive agora um momento histórico de mudança", disse Salil Shetty, secretário-geral da Anistia Internacional.
"A pessoas cansaram de viver com medo. Uma gente corajosa, estimulada por lideranças jovens, resolveu se erguer em defesa de seus direitos, enfrentando balas, tanques, gás lacrimogêneo e espancamentos. Essa bravura – combinada com as novas tecnologias que estão ajudando os ativistas a denunciarem e suplantarem a repressão governamental da livre expressão e das manifestações pacíficas – é um sinal para os governos repressores de que seus dias estão contados.
"Mas as forças da repressão estão reagindo com fúria. A comunidade internacional não pode desperdiçar essa oportunidade inédita de mudança e deve garantir que este despertar dos direitos humanos que vimos em 2011 não se torne uma ilusão”.
Uma batalha crucial está sendo travada pelo controle do acesso à informação, dos meios de comunicação e das tecnologias de rede, enquanto as mídias sociais impulsionam um novo tipo de ativismo que os governos estão fazendo de tudo para controlar. Como vimos na Tunísia e no Egito, a tentativa dos governos de impedir o acesso à internet ou de cortar as linhas de telefonia móvel é um tiro que pode sair pela culatra. Ainda assim, eles tentam fazer o que podem para recobrar o domínio da situação ou para usar essas tecnologias contra os ativistas.
Os protestos que se difundiram por todo o Oriente Médio e o norte da África, quando as pessoas passaram a exigir o fim da repressão e da corrupção, estão mostrando o quanto é grande sua vontade de viver sem medo e sem necessidades, e estão dando voz a quem não tinha.
Na Tunísia e no Egito, o sucesso dessas pessoas em destronar os ditadores fascinou o mundo. Agora, os ventos do descontentamento já sopram em lugares tão distantes quanto o Azerbaijão ou o Zimbábue.
No entanto, apesar de uma nova disposição em confrontar a tirania, e apesar de o campo de batalha pelos direitos humanos ter chegado à fronteira digital, a liberdade de expressão – um direito extremamente vital por si mesmo e também por dar acesso a outros direitos humanos – está sob ataque em todo mundo.
Os governos da Líbia, da Síria, do Iêmen e do Bahrein mostraram-se dispostos a espancar, mutilar ou matar para permanecer no poder. Mesmo onde os ditadores já caíram, as instituições que os apoiaram ainda precisam ser desmanteladas e o trabalho dos ativistas recém começou. Governos repressores, como os do Azerbaijão, da China e do Irã, estão tentando abortar antecipadamente quaisquer revoluções semelhantes que possam acontecer em seus países.
Informe 2011 da Anistia Internacional documenta restrições específicas à liberdade de expressão em pelo menos 89 países, destaca casos de prisioneiros de consciência em ao menos 48 países, documenta casos de tortura e outros maus-tratos em pelo menos 98 países e relata a ocorrência de julgamentos injustos em ao menos 54 países.
Dentre os momentos mais marcantes de 2010 estão a libertação de Aung San Suu Kyi em Mianmar e a atribuição do Prêmio Nobel da Paz ao dissidente chinês Liu Xiaobo, apesar das tentativas de seu governo de sabotar a cerimônia.
Longe das manchetes internacionais, milhares de defensores dos direitos humanos foram ameaçados, encarcerados, torturados e mortos em países como Afeganistão, Angola, Brasil, China, México, Mianmar, Rússia, Turquia, Uzbequistão, Vietnã e Zimbábue.
Na maioria das vezes, esses ativistas defendiam os direitos humanos atuando sobre questões de pobreza, da marginalização de comunidades inteiras, de direitos das mulheres, de corrupção, brutalidade e opressão. Os eventos que se sucederam ao redor do mundo evidenciaram a importância de seu papel e mostraram o quanto é necessário que as pessoas de todo o mundo se solidarizem com eles.
O relatório anual da Anistia Internacional destaca ainda:
  • A deterioração da situação em países onde os ativistas correm sérios riscos, como Ucrânia, Belarus e Quirguistão; a espiral de violência na Nigéria; e a escalada da crise provocada pelos rebeldes maoístas armados nas regiões central e nordeste da Índia.
  • As principais tendências regionais, como as ameaças crescentes aos povos indígenas nas Américas; a complicada situação legal das mulheres que optam por usar o véu que cobre o rosto na Europa; e a disposição cada vez maior dos Estados europeus de devolver as pessoas para locais em que elas correm risco de perseguição.
  • Os conflitos que trouxeram desgraças a países como República Centro-Africana, Chade, Colômbia, República Democrática do Congo, Iraque, Israel e Territórios Palestinos Ocupados, Sri Lanka, Sudão, Somália e a região russa do norte do Cáucaso – lugares em que os civis são alvos tanto dos grupos armados quanto das forças do governo.
  • Sinais de progresso, como o constante retrocesso da pena de morte; algumas melhoras nos cuidados de saúde materna, por exemplo, na Malásia e em Serra Leoa; e o fato de alguns dos responsáveis por crimes contra os direitos humanos cometidos sob os regimes militares da América Latina terem sido levados à Justiça.
Salil Shetty afirmou que os governos poderosos, que subestimaram a sede de liberdade e de justiça de pessoas de todos os lugares, devem agora apoiar as reformas em vez de continuar com o cínico apoio político que prestavam à repressão. A verdadeira integridade desses governos deverá ser medida por algumas provas importantes: o apoio que darão à reconstrução de Estados que promovam os direitos humanos, mesmo que esses Estados não sejam seus aliados, e sua disposição, como no caso da Líbia, de encaminhar os piores perpetradores para o Tribunal Penal Internacional quando falharem todas as outras vias de justiça.
A necessidade de haver uma política de tolerância zero, de parte do Conselho de Segurança da ONU, para crimes contra a humanidade, foi ressaltada pela brutalidade da repressão na Síria, que, desde março, já deixou centenas de mortos, e pela falta de qualquer ação coordenada para responder à repressão dos protestos pacíficos no Iêmen e no Bahrein.
Os governos do Oriente Médio e do norte da África devem ter a coragem de permitir que se realizem as reformas exigidas por um cenário de direitos humanos em tamanha transformação. Eles devem respeitar os direitos de as pessoas se expressarem e se reunirem pacificamente, além de garantir a igualdade para todos, sobretudo eliminando os obstáculos à participação plena das mulheres na sociedade. As polícias secretas e as forças de segurança devem ser refreadas e as brutalidades e as matanças devem acabar. Deve-se assegurar que os responsáveis prestem contas integralmente pelos abusos que cometeram, a fim de que as vítimas obtenham a justiça e a reparação que aguardam há muito tempo.
As empresas provedoras de serviços de internet e de telefonia móvel, que mantêm sites de relacionamento social ou que prestam suporte a mídias digitais e a sistemas de comunicação, precisam respeitar os direitos humanos. Essas empresas não devem ser marionetes nem cúmplices de governos repressores que querem espionar e sufocar a livre expressão de seu povo.
"Desde o fim da Guerra Fria não se via tantos governos repressores sendo desafiados a tirar suas garras do poder. A exigência de direitos políticos e econômicos que se propaga pelo Oriente Médio e norte da África é uma prova dramática de que todos os direitos têm importância igual e de que constituem uma demanda universal," disse Salil Shetty.
“Cinquenta anos depois que a Anistia Internacional surgiu para proteger os direitos de pessoas detidas por manifestar pacificamente suas opiniões, os direitos humanos passaram por uma revolução. O clamor por justiça, liberdade e dignidade se transformou em uma demanda global que se fortalece a cada dia. O gênio saiu da garrafa e as forças da repressão não conseguem mais aprisioná-lo."

NOTA AOS EDITORES 

  1. Informe 2011 da Anistia Internacional: O Estado dos Direitos Humanos no Mundo abrange o período de janeiro a dezembro de 2010.
  2. Fatos e números, materiais audiovisuais, detalhes sobre eventos e outras informações para a imprensa  podem ser disponibilizados através do e-mail press@amnesty.org
  3. Para mais informações ou para agendar entrevista com um porta-voz da Anistia Internacional ou com as pessoas que estiveram na linha de frente da luta por direitos humanos no último ano, entre em contato com a Assessoria de Imprensa através do telefone + 44 (0) 20 7413 5566 ou do e-mail press@amnesty.org.

Anistia Internacional
Não desperdice sua energia
Comunicado à Imprensa

12 de maio de 2011 




terça-feira, 24 de maio de 2011

República dos Canalhas ou Como é doce uma quadrilha!...

Bom, nem preciso escrever algumas linhas para introduzir o artigo abaixo, como costumo e gosto de fazer aqui no ABC!

Basta uma vista d' olhos no noticiário nacional pra saber do que se trata aqui. Nenhum dos "pilares" da República Bananeira escapa, mesmo. Quando não é o Judiciário e suas bandas podres, seus cancros, seus semideuses cínicos e togados, são os trocentos picaretas do Congresso... E agora, o primeiro escalão do Executivo, no governo da Primeira Mulher Presidente da República, que sequer completou seis meses!

Como diz o outro, Viva o Brasil !!!


O discreto charme da corrupção

Arnaldo Jabor

Vivemos sob uma chuva de escândalos e denúncias de corrupção. Mas, não se enganem, esses shows permanentes nos jornais e TV servem apenas para dar ao povo a impressão de transparência e para desviar seus olhos das reformas essenciais que mantêm nossas oligarquias intactas. Aos poucos o povo vai se acostumar à zorra geral e achar que tanta gente tem culpa que ninguém tem culpa. Me chamam de canalha, mas eu sou essencial. Tenho orgulho de minha cara de pau, de minha capacidade de sobrevivência, contra todas as intempéries. 

Enquanto houver 25 mil cargos de confiança no País, eu estarei vivo, enquanto houver autarquias dando empréstimos a fundo perdido, eu estarei firme e forte. Não adiantam CPIs querendo me punir. Eu me saio sempre bem. Enquanto houver esse bendito Código de Processo Penal, eu sempre renascerei como um rabo de lagartixa, como um retrovírus fugindo dos antibióticos. 

Eu sei chorar diante de uma investigação, ostentando arrependimento, usando meus filhos, pais, pátria, tudo para me livrar. Eu declaro com voz serena: "Tudo isso é uma infâmia de meus inimigos políticos".

Eu explico o Brasil de hoje. Tenho 400 anos: avô ladrão, bisavô negreiro e tataravô degredado. Eu tenho raízes, tradição. Durante quatro séculos, homens como eu criaram capitanias, igrejas, congressos, labirintos. Nunca serão exterminados; ao contrário - estão crescendo. Não adianta prender nem matar; sacripantas, velhacos, biltres, vendilhões e salafrários renascerão com outros nomes, inventando novas formas de roubar o País.

E sou também "pós-moderno": eu encarno a "real-politik" do crime, a frieza do Eu, a impávida lógica do egoísmo.

No imaginário brasileiro, tenho algo de heroico. São heranças da colônia, quando era belo roubar a Coroa. Só eu sei do delicioso arrepio de me saber olhado nos restaurantes e bordeis; homens e mulheres veem-me com gula: "Olha, lá vai o ladrão..." - sussurram fascinados por meu cinismo sorridente, os maîtres se arremessando nas churrascarias de Brasília e eu flutuando entre picanhas e chuletas.

Amo a adrenalina que me acende o sangue quando a mala preta voa em minha direção, cheia de dólares, vibro quando vejo os olhos covardes dos juízes me dando ganho de causa, ostentando honestidade, fingindo não perceber minha piscadela maligna e cúmplice na hora da emissão da liminar... Adoro a sensação de me sentir superior aos otários que me compram, aos empreiteiros que me corrompem, eles, sim, humilhados em vez de mim.

Sou muito mais complexo que o bom sujeito. O bom é reto, com princípio e fim; eu sou um caleidoscópio, uma constelação.

Sou mais educativo. O homem de bem é um mistério solene, oculto sob sua gravidade, com cenho franzido, testa pura. O honesto é triste, anda de cabeça baixa, tem úlcera. Eu sou uma aula pública de perversidade. Eu não sou um malandro - não confundir. O malandro é romântico, boa-praça; eu sou minimalista, seco, mais para poesia concreta do que para o samba-canção. Eu faço mais sucesso com as mulheres - elas ficam hipnotizadas por meu mistério; e me amam, em vez do bondoso, que é chato e previsível. 

A mulher só ama o inconquistável. Eu fascino também os executivos de bem, porque, por mais que eles se esforcem, competentes, dedicados, sempre se sentirão injustiçados por algum patrão ingrato ou por salários insuficientes. Eu, não; não espero recompensas, eu me premio e tenho o infinito prazer do plano de ataque, o orgasmo na falcatrua, a adrenalina na apropriação indébita. Eu tenho o orgulho de suportar a culpa, anestesiá-la - suprema inveja dos meros neuróticos e sempre arranjo uma razão que me explica para mim mesmo. Eu sempre estou certo; ou sou vítima de algum mal antigo: uma vingança pela humilhação infantil, pela mãe lavadeira ou prostituta que trabalhou duro para comprar meu diploma falso de advogado. Pois é, eu comprei meu título de advogado; paguei um filho de uma égua para me substituir no exame e ele acertou tudo por mim. Eu me clonei.

Subi até a magistratura. Como juiz e com meu belo diploma falso na parede, vendi muitas sentenças para fazendeiros, queimadores de florestas, enchi o rabo de dinheiro. Passei a ostentar uma dignidade grave, uma cordialidade de discretos sorrisos, vivendo o doce frisson de me sentir superior aos medíocres honestos que se sentem "dignos"; digno era eu, impávido, mentindo, pois a mentira é um dom dos seres superiores. A mentira é necessária para manter as instituições em funcionamento. O Brasil precisa da mentira para viver. E vi que é inebriante ser cruel, insensível, ignorar essas bobagens como a razão, a ética, que não passam de luxos inventados pelos franceses, como os escargots.

Aí, com muito dinheiro encafuado, bufunfas e granolinas entesouradas, eu me permiti as doçuras da vida e me apaixonei por aquela santa que virou mãe de meus filhos. Hoje, com a passagem do tempo, ela vai se consumindo em plásticas e murchando sob pilhas de botox, mas continuo fiel a ela como o marido público, pois nunca a abandonarei, apesar das amantes nas lanchas, dos filhos bastardos.

E, aí, fui criando a minha rede de parentes e amigos; como é doce uma quadrilha, como é bela a confiança de fio de bigode, o trânsito cordial entre a lei e o crime... Assim, eu fechei o ciclo que começou na mãe lavadeira e no diploma falso até a minha toga negra, da melhor seda pura que minha esposa comprou em Miami, e não fui feito desembargador nas coxas não; eu já sabia que bastavam padrinhos e meia dúzia de frases em latim: "Actore non probante, reus absolvitur!" (frase que muito me beneficiou vida a fora.) Depois, claro, fui deputado, senador e sou um homem realizado. Eu sou mais que a verdade; eu sou a realidade. Eu e meus amigos criamos este emaranhado de instituições que regem o atraso do País. Este País foi criado na vala entre o público e o privado. 

A bosta não produz flores magníficas? Pois é. O que vocês chamam de corrupção, eu chamo de progresso. O Brasil precisa de mim.


Do saite Espaço Vital.

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Os perseguidos

Lucius Annaeus Seneca, que nasceu em Córdoba, Espanha, alguns anos antes da era cristã, é o primeiro representante do estoicismo romano. Era filho do retórico Sêneca, o Velho, e foi educado em Roma, onde estudou retórica e filosofia. Ficou famoso como advogado. Como político, chegou ao Senado, sendo depois nomeado questor, magistrado da justiça criminal.

O sucesso de Sêneca na política provocou a inveja do imperador Calígula, que pretendia assassiná-lo, mas quem acabou morrendo mesmo foi Calígula. Anos depois, sob acusação de adultério, Sêneca foi exilado na Córsega, onde sofreu grandes privações de ordem material.

De volta a Roma depois de longo período, assumiu a educação de Nero, sendo seu principal ministro e conselheiro quando este se torna imperador. Alcançou sucesso e fortuna, provocando então a hostilidade de Nero. Perseguido, acaba condenado ao suicídio.

Com serenidade estoica, no ano 65 da nossa era, cortou os pulsos diante de amigos, cumprindo a condenação determinada pelo despótico imperador.

Entre seus Ensaios Morais contam-se Sobre a Clemência, onde adverte Nero sobre os perigos da tirania, Da Brevidade da Vida, em que analisa as frivolidades nas sociedades corruptas e Sobre a Tranquilidade da Alma, que trata da participação na vida pública.

Para Sêneca, a filosofia é uma arte da ação humana, uma pedagogia que educa os homens para o exercício da virtude, uma medicina da alma. No centro da reflexão filosófica, portanto, deve estar a ética, os valores imperecíveis.

Como se vê, não é de hoje que a inveja constitui motor das injustiças cometidas pela iniquidade.


Os perseguidos


Maus não são os que parecem ser, os que apenas parecem ser. E o que tu chamas de asperezas, adversidades, abominações, são coisas até proveitosas às pessoas que as têm de suportar, e mesmo a todos os homens, pelos quais velam os deuses, os sofrimentos, injustamente impostos, acabam tornando-se merecimento para os que os recebem e castigo para os que se livram deles a qualquer preço.

Em geral, as perseguições atingem os bons, exatamente porque são bons. Não chores sobre o sofrimento dos bons, para que não se tenha a idéia de que eles são desventurados. Não te espantes, se te digo que ser esmagado pela perseguição não é, geralmente, uma desgraça para o homem, mas antes uma felicidade e uma honra.

"Mas será proveitoso - perguntas - ser lançado ao exílio, reduzido à indigência, ter de enterrar a esposa e os filhos, ser vilipendiado pela ignomínia e mutilado pela tortura?" Se te parece estranho que isso seja proveitoso, também te há de parecer estranho que alguns sejam curados com ferro e fogo, como pela fome ou pela sede. Mas se considerares que a alguns, por remédio heroico, lhes quebram e arrancam os ossos, lhes extraem veias e amputam determinados membros, que não poderiam ficar unidos ao resto do corpo sem prejudicá-lo, também hás de reconhecer, forçosamente, que certos males beneficiam aos que os suportam.

Da mesma forma certas vantagens, certos prazeres, certas recompensas e honrarias aviltam e desfiguram aos que delas se beneficiam. Entre muitas e magníficas sentenças de nosso Demétrio, há uma de que sempre me lembro, e que diz que nada parece mais infeliz do que o homem que nunca sofreu contrariedades, pois, assim, nunca foi provado. Os deuses o desprezam, não lhe dando oportunidade de construir sua fortaleza de ânimo e vencer as injustiças.

É próprio dos pouco dignos não sofrer perseguições, pois estão sempre de acordo com os poderosos, como se dissessem: "Para que vou me opor a um adversário temível?" Sobre estes, o opressor nem precisará descer sua mão pesada. Acovardam-se com um simples olhar. O próprio opressor os despreza, e respeita mais aqueles que o enfrentam com valor, mesmo quando são esmagados. O próprio opressor gosta de medir suas forças com quem também tem força, e tem vergonha de lutar contra um homem resignado à derrota e à submissão. O gladiador considera uma ignomínia combater com um inferior e sabe que o vencido sem perigo é um vencido sem glória.

Assim também procede a fortuna: busca os mais fortes, os que não têm medo, os mais tenazes. Prova a Múcio com o fogo, o Fabrício com a pobreza, a Rutilo com o desterro, a Régulo com a tortura, a Sócrates com o veneno, a Catão com a morte. Só na adversidade se encontram as grandes lições de heroísmo. Será que Múcio foi um infeliz ao segurar na mão direita a tocha acesa e ao infligir-se a si mesmo o castigo de seu erro, pondo em fuga com a mão queimada o rei que não pudera afugentar com a mão armada? Teria alcançado glória maior se estivesse acalentando a mão no seio de uma amiga? E Fabrício, ao lavrar seu pequeno campo, nas horas de folga do exercício do governo, no qual fazia a guerra tanto a Pirro como às riquezas, e porque, à luz da lamparina de sua casa modesta, não come outra coisa senão as raízes e as ervas que plantou e colheu com suas próprias mãos?

E Rutilo, será um infeliz por ter sofrido uma condenação da qual os juízes que o condenaram se envergonharão através dos tempos, e por ela responderão ao longo dos séculos? O que o honra, exatamente, é a grandeza com que se portou diante dos juízes perversos, e preferiu perder o direito de viver na própria pátria, negando-se sempre a negociar sua consciência com Sila, o ditador, a quem respondeu viajando ainda mais longe de Roma, quando o tirano o convidava a voltar. Sua resposta altiva ao ditador era que ficasse ele com os que se compraziam na submissão e contemplavam sem revolta o sangue derramado na rua e as cabeças dos senadores do povo no lado serviliano e as hordas de assassinos rondando soltos a cidade, e os milhares de cidadãos romanos degolados num mesmo lugar, depois de haverem jurado fidelidade, e até exatamente por isto. Fiquem com tudo isso - dizia o exilado - os que preferem a desonra ao desterro. E a Régulo, a quem torturaram, arrancaram a pele, encheram-lhe o corpo de feridas, obrigaram-no a não dormir - quem era superior: ele, ou os torturadores? Seu tormento foi grande, mas sua glória foi maior. Porque sofria pela causa do povo romano.


(Do tratado sobre a Providência)

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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Cães, esses seres mais que especiais

Eu não tenho um Golden, o cão de que trata o filósofo Paulo Ghiraldelli Jr. no artigo que publico abaixo. Os meus são "srd", como dizem os veterinários, "sem raça definida", vira-latas, na acepção popular. Arthur, o caçula, peralta e serelepe, é o meu filho "loiro", dourado como o Pitoko do filósofo. Chico, o primogênito, de mãe poodle, Nina, e pai vira, João, é o meu filho com todas as qualidades que o filósofo identificou no seu Golden, e eu arrisco a dizer, outras mais.



Chico é um lorde inglês. Educadíssimo. Não precisei ensiná-lo como se portar quando de suas necessidades fisiológicas. Jamais as fez dentro de casa ou em lugares impróprios. Doce como o mel, companheiro de todas as horas, alegre, solidário, me ensinou a amar, me amando.

E o melhor de tudo: de um caráter, de uma lealdade, de uma integridade sem limites. O que falta em boa parte da "humanidade" com que somos todos obrigados a conviver...


Aprendendo a amar


Os animais são racionais. Contra Aristóteles, Voltaire (1) acompanhou Montaigne na sua observação dos animais, mostrando o comportamento deles como possuindo, segundo uma perspectiva, tudo que se pode atribuir à racionalidade.

Na verdade, se quiséssemos ser cientificamente bem rigorosos e filosoficamente espertos, teríamos de afirmar uma diferença de “racionalidade” entre nós, os bípedes-sem-penas, e os outros animais, se pudéssemos adentrar nas mentes deles. Não podemos fazer isso com nossos semelhantes. Com ninguém. Tudo que sabemos da racionalidade de nossos semelhantes e dos nossos dessemelhantes é por imputação, a partir da observação comportamental.

Por isso mesmo, gosto muito daquele desenho animado em que há uma sociedade secreta de cães que toma conta da Terra, e que vive salvando o planeta das besteiras feitas pelos homens e mulheres. Pode parecer empiricamente impossível aquilo, mas do ponto de vista teórico, aquela ficção não é impossível. Deveríamos levar aquele cartoon a sério ao nos relacionarmos com os animais, principalmente com aqueles que trouxemos para dentro de nossos lares e do nosso convívio há tanto tempo, os cães.

Caso você tenha um cão, não o trate como um pet. Trate-o como um membro da família. Caso você tenha um cão Golden, trate-o não só como membro da família, mas como um filho – e seja um bom pai e uma boa mãe. Faça isso e você não só estará fazendo justiça à “racionalidade” que Voltaire notou, mas estará fazendo também algo de muito bom para você mesmo. Será um presente que você estará se dando. Pois ao elevar o Golden à condição de filho, você descobrirá em você uma nova capacidade de amar. Como amor envolve não só dedicação, mas observação, pois o amor tem um “olhar especial”, então você começará a filosofar como Voltaire. Você começará a finalmente entender o Cosmos, ao ver nos seres que até então você chamava de “brutos” algo nada bruto, talvez algo bem melhor que tudo que nós, os humanos, podemos nos atribuir.

A primeira coisa que você tem de aprender com o Golden é que ele, como você, vem “programado” para realizar certas coisas já em tenra idade. Ele faz o xixi no jornal, sem que você ralhe com ele, apenas mostrando uma vez o lugar de xixi. Pode, no máximo, colocá-lo ali para fazer o xixi. Mas, no geral, nem isso. Só o fato de colocar o jornal, já será o suficiente. Desde as primeiras semanas, podendo ensaiar alguns passinhos e pulinhos, ele já estará pegando a bolinha e trazendo para você. Ao mesmo tempo, ele estará latindo de maneira diferente, para cada coisa que quer. Ou coisa que quer para ele próprio ou coisas que ele quer para você. Eduque seu ouvido para perceber o que ele fala – e ele fala intencionalmente, sem qualquer “condicionamento”. Golden não é para condicionar, não mais que nós mesmos, os humanos. Golden é, em certo sentido, um humano, ou seja, aprende como nós: na base da conversa. Um Golden aprende em torno de 50 palavras de modo muito rápido, sem que você se preocupe em ensinar. Agora, se quiser ensinar, ah, então verá que está diante de uma máquina de aprender sempre. Não é necessário “comandos”, como os treinadores de cães fazem. Basta que o feedback positivo seja dado para cada objeto e palavra, para cada situação e nome, e ele irá aprendendo tudo. Ele observa demais as pessoas que ama, e aprende o que estão conversando, entende o sentido da conversa, quando esta conversa se refere a coisas e situações mais fáceis e mais concretas. Um Golden sabe perfeitamente quando se está conversando dele, e não com ele.

O meu filho Pitoko, um Golden que está agora com mais de um ano, presta atenção na conversa minha com minha esposa, a Fran, e se há na conversa algo que o interessa, por exemplo, a expressão “vamos sair” ou “vamos passear” ou “vamos dar um andada”, ele logo aparece com sua coleira na boca, para ser vestido e se preparar para a saída. Nada foi falado para ele. Estávamos conversando entre nós. Mas, do mesmo modo que eu reconheço alguns latidos dele com o que ele vai fazer, ele também reconhece os meus sons. E ele está sempre interessado em nos acompanhar. O prazer dele é o prazer de estar junto conosco. Como o prazer da Fran e o meu é de estarmos juntos um com outro. Pitoko nos ama. Nós o amamos. É isso.

Tudo que o Golden faz ele faz por amor. Amor aos que lhe dão amor. Mas, fundamentalmente, amor a quem é seu “amor à primeira vista”. Portanto, guarde bem isso, para ensinar ao seu filho ou filha (humanos): se ela ou ele é quem vai ficar com Golden, que ela encare como um parceiro eterno – mais que um amigo ou irmão, mas um tipo de amizade siamesa. Não se pode ficar adolescente e, então, deixar o Golden ser um pet, trocá-lo por amigos ou amigas. Quem faz isso, comete um crime. Quem faz isso, não teve educação, percepção, não foi criado para ser um autêntico ser humano. Não entendeu nada do que é o amor e do que é a amizade.

Comece a observar seu filho, o Golden. Deixe-o dormir junto com você. Tome banho com ele. Converse. A cada passo desses, você vai entender, finalmente, o que é o amor. Você vai sentir um enorme prazer de ter se tornado uma pessoa melhor, capaz de amar outros seres, capaz de cumprir um belo lema do liberalismo que é “viver e deixar viver”. Você será uma pessoa menos irritada, menos “krika”. Experimente. E saiba que a filosofia estará com você. Sempre. Pois, finalmente, você a levou a sério.

Ah, não se esqueça de seguir uma boa dieta para o seu cão, principalmente se ele for um Golden.

©2011 Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo, escritor e professor da UFRRJ

(1) O texto de Voltaire sobre o animais.