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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

DILMA E A MÍDIA

Encerrada a primeira semana de Dilma Roussef como Presidenta Eleita, o retrospecto que pode ser feito de suas aparições na mídia brasileira mostra uma boa atuação de Dilma, que concedeu entrevistas a diversos telejornais logo no início da semana e uma entrevista coletiva aos jornalistas de vários órgãos de imprensa credenciados no Palácio do Planalto.

No segunda-feira, véspera do feriado, as primeiras declarações da Presidenta Dilma a uma rede de televisão surpreendeu pela "novidade":  a quebra da "tradição" de sempre privilegiar (foi assim nas duas vitórias de Lula) a Rede Globo de Televisão. Com Dilma, sintomaticamente, a preferência foi dada à Rede Record de Televisão, mudança que pode indicar o descontentamento da Presidenta com a participação inequívoca da emissora global na campanha eleitoral de José Serra. Muito simpática e desenvolta na entrevista concedida às jornalistas Ana Paula Padrão e Adriana Araújo, quando questionada sobre sua posição em relação à liberdade de imprensa, Dilma, como no seu primeiro pronunciamento oficial enquanto presidenta eleita, reafirmou seu compromisso com a ampla e irrestrita liberdade de imprensa, sugerindo que para selecionar os veículos que praticam um jornalismo sério e competente o povo deveria fazer uso de um importante instrumento de que já dispõe: o controle remoto.

No mesmo dia primeiro, a presidenta eleita compareceu aos estúdios da Rede Globo em Brasília, onde um William Bonner "adocicado", muito diferente daquele dos debates globais e das entrevistas dos candidatos no JN, "estendeu o tapete vermelho" para Dilma, conduzindo uma entrevista onde ela, na verdade, pouco falou. Boa parte do tempo foi gasta numa espécie de "Vale a Pena Ver de Novo", exibição de matéria requentada, levada ao ar no dia anterior, mostrando as origens familiares dos Rousseff na Bulgária e uma resumida história de vida da Presidenta.

No feriado do dia 2, Dilma concedeu entrevista à Rede Bandeirantes, quando deixou clara mais uma vez sua posição sobre liberdade de imprensa, que exclui todo e qualquer controle de conteúdo da mídia, o que ela considera um "absurdo", e afirmou que sua política no setor da comunicação social se dará no estabelecimento de um "marco regulatório" que contemple entre outras questões a participação do capital estrangeiro, a interação entre as várias mídias, a banda larga e a "concorrência desproporcional" entre os veículos.

Ainda no feriado a presidenta eleita apareceu na tela do SBT, concedendo pequena entrevista ao muito apressado e ansioso apresentador Carlos Nascimento. As questões referentes à mídia não foram aventadas.

Logo após o feriado, depois de encontro com o Presidente Lula no Palácio do Planalto, a Presidenta Dilma concedeu importante entrevista coletiva aos jornalistas credenciados no palácio, se pronunciando com desembaraço, segurança, simpatia, bom humor e leveza sobre assuntos variados (pré-sal, guerra cambial, ministério, oposição etc.). Nesta entrevista, os que ainda tinham dúvidas ou ressalvas sobre a competência da Presidenta viram com surpresa o domínio dela sobre os vários temas da agenda governamental, domínio nem sempre claro nos debates eleitorais, onde uma Dilma nervosa, desambientada sob os holofotes, e indignada pela campanha imunda desferida pelo adversário, passou muitas vezes imagem de inexperiência e despreparo.

Curiosamente, esta importante entrevista concedida a um bando de repórteres ansiosos e sedentos por arrancar da Presidenta alguma informação inédita ou bombástica não obteve grande repercussão nos veículos de comunicação no dia seguinte, passando até certo ponto "em brancas nuvens" muitos pontos de vista interessantes que ela externou.

Na tarde da quarta-feira 3, após a entrevista coletiva da manhã, Dilma desapareceu do noticiário e de Brasília, indo descansar da maratona eleitoral em "algum lugar incerto e não sabido". Dois dias depois, após busca incessante e infrutífera na casa da filha Paula em Porto Alegre, a presidenta eleita foi "descoberta" em praia paradisíaca no sul da Bahia (Itacaré), hospedada em luxuosa mansão de empresário paulista. Perseguida por outro bando de jornalistas ansiosos, bisbilhoteiros e sedentos por flagrar a presidenta eleita em trajes sumários, tomando banho de mar, Dilma não pôde desfrutar das belezas do ensolarado litoral baiano, tendo que abreviar seus dias de descanso e voltar já no sábado à noite para a capital federal, onde monta equipe de transição e se prepara para acompanhar o Presidente Lula como convidada especial na reunião do G-20 em Seul.